Por Camille Santos
Delphine LaLaurie nasceu em 1775, na cidade de Nova Orleans, EUA. Foi casada três vezes, tendo ficado viúva nos dois primeiros casamentos. Foi apenas no terceiro casamento, quando se casou com o médico Leonard Louis Nicolas LaLaurie em 1831, que Delphine acabou adquirindo o sobrenome LaLaurie. Em seguida mudou-se para a mansão que mais tarde se tornaria palco para suas sanguinárias ações, localizada no French Quarter, bairro mais antigo da cidade.
Por pertencer a uma família de políticos, a socialite era respeitada e recebia grande prestígio da alta sociedade. E para manter essa relação de importância promovia diversos bailes em sua mansão onde recebia apenas pessoas influentes e membros da alta classe de Nova Orleans.
Seus próprios convidados comentavam sobre a maneira que Delphine tratava seus escravos, sendo caracterizada com tamanha humilhação, brutalidade e tortura. Os convidados os descreviam como “abatidos e miseráveis”.
Em 1838, a socióloga britânica Harriet Martineau, escreveu um relato no qual reunia diversos testemunhos de moradores de Nova Orleans a respeito dos escravos que pertenciam a família LaLaurie. Um dos vizinhos testemunhou a morte de uma escrava de 12 anos.
A criança, chamada Lia, teria fugido apavorada para o telhado, com medo de que a Madame arrancasse sua pele após ter puxado o cabelo de LaLaurie com um pouco mais de força enquanto penteava. No mesmo tempo em que a garota chorava, Delphine esperava com um chicote prometendo que a punição seria muito pior se ela não descesse imediatamente. No momento em que a garota negou, LaLaurie mandou que atirassem pedras a fim de obrigar Lia a obedecer. No entanto a criança acabou se desequilibrando e caiu quebrando o pescoço. A fúria da Madame não cessou, pois mesmo após a morte de Lia ela teria mandado amarrar o cadáver da garota em um poste e ela própria chicoteou várias vezes o corpo sem vida.
Em outro momento LaLaurie teria ficado descontente com a comida servida aos seus convidados presentes na mansão. Como punição ela teria deixado seus escravos sem comida por dias e obrigado eles a observar sua família durante todas as refeições. Quando um deles desmaiou por tamanha fraqueza, Delphine teria mandado que o escravo fosse colocado em um caixão e enterrado vivo no jardim.
Os episódios de fúria eram tantos que as autoridades tiveram que intervir, e após encontrarem evidências de maus tratos na mansão sentenciaram a família com a perda de nove escravos.
Graças a influência política que sua família tinha, LaLaurie conseguiu recuperar seus escravos.
A prova concreta das atrocidades que a Madame realizava viria em 10 de abril de 1834 quando a mansão foi tomada por um incêndio provocado pelos escravos na tentativa de atrair a autoridades e serem libertos.
Delphine e sua família não se encontravam na casa no momento do incêndio. A polícia e os bombeiros foram acionados e chegando lá a primeira cena que encontraram foi de uma senhora de mais ou menos 70 anos, que se encontrava amarrada pelos pulsos e tornozelos no fogão.
Após controlarem o fogo, tentaram entrar no alojamento dos escravos a fim de evacuá-los. Ao adentrarem o local encontraram alguns escravos em situações perturbadoras no último andar.
Uma das vítimas encontradas, foi uma escrava que estava com boca cheia de fezes e os lábios costurados. Um dos escravos teve seus membros quebrados, arrancados e costurados no corpo em ângulos estranhos, fazendo com que parecesse um caranguejo humano. Uma outra escrava se encontrava dentro de uma gaiola de cães, e por ser um espaço pequeno para o seu corpo, teve seus ossos quebrados a fim de caber na gaiola de metal. Um escravo foi encontrado com um buraco na cabeça cheio de ganchos, além dos vários crânios encontrados com furos. Havia diversos corpos pendurados pelo pescoço em cordas, escravos sem vida, com braços e pernas cortados, presos a correntes além dos vários itens de tortura presentes no local.
Uma das pessoas que entrou no local de tortura foi o juiz Jean-Francois Canonge, que depois relatou o que encontrou na mansão: “Havia uma mulher nua com um colar de ferro cheio de espinhos presa na parede por uma corrente. Os muitos ferimentos em suas costas evidenciaram o uso de chicote e ferros em brasa. A mulher contou que a Madame LaLaurie costumava cortá-la com uma navalha e beber seu sangue. Ela também mergulhava suas mãos e rosto em uma bacia cheia de sangue acreditando que assim poderia ficar ‘jovem pra sempre’. Um homem havia sido castrado e o ferimento tinha sido costurado com barbante, a língua dele também foi cortada para que ele não pudesse falar.”
Os escravos torturados prestaram testemunho sobre tudo o que acontecia na mansão e o que haviam passado. Um dos homens de confiança da Madame, confessou durante o interrogatório que Delphine sentia prazer em atormentar e punir seus escravos e que o local de torturas era usado há anos.
Quando as atrocidades da Madame LaLaurie se espalharam pela cidade, uma multidão se juntou para destruir a mansão. As roupas e jóias da família foram saqueadas e os salões com móveis luxuosos devastados. No momento que as autoridades conseguiram dispersar a multidão furiosa, já não sobrava muita coisa além das paredes da mansão localizada na Royal Street.
Até hoje, o que se sabe sobre o que aconteceu com Madame LaLaurie após o incêndio é incerto. Segundo a socióloga Martineau, a assassina e torturadora de escravos fugiu para o Alabama onde foi hospedada por parentes durante algumas semanas. Seu marido Leonard a abandonou com medo de sofrer represálias se continuasse com ela. Com medo de ser descoberta, viajou para Paris, onde teria morrido em 1842.
A mansão de Delphine LaLaurie permanece de pé até os dias de hoje. Antigos donos dizem que é capaz de escutar murmúrios durante a noite, além de ser possível ver vultos de escravos arrastando correntes.
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