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O CRIME NÃO COMPENSA

Por Gabriel Belic e Isabella Scala


Pedro Rodrigues Filho, mais conhecido como Pedrinho Matador, é considerado o maior serial killer da história brasileira. Pela estimativa da polícia, ele matou mais de 100 pessoas, incluindo o próprio pai. Sua primeira tentativa de assassinato foi aos 13 anos, quando jogou seu primo em um moedor de cana, mas os ferimentos não foram fatais. Pela definição psiquiátrica, Pedrinho é considerado um psicopata, uma pessoa que sofre de um distúrbio psíquico que afeta sua forma de interação social, causando a falta de empatia e afeto. A proporção de pessoas com transtorno de personalidade antissocial (nome clínico da psicopatia) na sociedade é a mesma de pessoas com vitiligo, ou seja, atinge 2% a 3% da população.


Entrevistamos Pedrinho sobre seu histórico carcerário e sua visão sobre a ressocialização de ex-detentos. Ele contou que seu tempo na cadeia foi horrível devido às más condições. Ao falar sobre a ressocialização, Pedrinho conta que “nem todo mundo que está lá dentro é ruim, muitos eram, sim, mas no meu tempo a grande maioria era para se defender”. Na visão de Pedrinho, a ressocialização é mais fácil nos dias de hoje. Para auxiliar sua própria ressocialização, ele criou um canal no YouTube (Pedrinho Matador: O Crime Não Compensa), o qual tinha mais de 30 mil inscritos. Contudo, ao checarmos o canal para realizar a matéria, ele havia sido deletado e outro, denominado “O recomeço”, foi criado. O conteúdo é baseado nos comentários de Pedrinho sobre crimes.


Hilda Morana, 64 anos, psiquiatra pós-graduada pelo Instituto Metodista de Ensino Superior, estudou o caso clínico de Pedrinho. Ao contar sua experiência com ele, falou sobre um evento marcante, no qual Pedrinho estava no parlatório – local onde detentos ficam para conversar com visitantes – e Hilda apoiou um dos braços na grade, e logo em seguida foi surpreendida com a fala de Pedrinho: “Se eu fosse você, eu tirava o braço daí”. Ao ser questionada sobre uma possível ressocialização de um psicopata, foi direta e disse: “Não, ponto final. Porque o psicopata nasce com um defeito cerebral e esse defeito só aparece depois dos 18 anos, que é quando se faz a poda sináptica (fase do desenvolvimento em que algumas conexões entre os neurônios são eliminadas pelo organismo). Você vai ver neles uma área do cérebro imensa que não funciona. Então, ele não tem cérebro para respeitar, entender e aceitar o outro”, diz ela. Por isso, na visão psiquiátrica, a ressocialização de Pedrinho seria tecnicamente impossível. Porém, Hilda explica que quando um psicopata atinge certa idade avançada, mesmo que ainda tenha impulsos agressivos, ele não tem mais a mesma disposição para praticar seus crimes. Por mais que a ressocialização de Pedrinho não seja psiquiatricamente possível, o fato de ele ter sessenta e quatro anos o impede de praticar crimes.


Perguntamos ao Pedrinho se ele fazia algum tipo de terapia ou prosseguia com algum tratamento. “Nunca fiz tratamento nenhum, só na cadeia quando fiquei 19 anos na mão da psiquiatria. Aí sim fiquei no meio dos loucos de verdade, mas não sou louco, nunca fui”, diz. Por mais que não exista um tratamento específico para psicopatia, Hilda achou um medicamento eficaz para inibir a excitação constante e acalmar pensamentos violentos, sintomas causados pelo transtorno. Ela tem usado a gabapentina em seus pacientes há quase seis anos e tem obtido bons resultados.


Temos observado uma crescente demanda de conteúdo sobre assassinatos em série na mídia em geral. Recentemente, foram produzidos um documentário e um filme sobre a vida e os crimes de Ted Bundy e Jeffrey Dahmer, serial killers famosos na história dos Estados Unidos. Hilda conta que essa curiosidade por casos macabros vem do nosso gosto pela morbidez. Um exemplo recente de um caso de assassinato em massa é o caso dos atiradores de Suzano, que foram influenciados pelo massacre escolar de Columbine, que deixou 15 mortos. Além do canal, Pedrinho Matador produziu um documentário sobre sua vida e uma autobiografia. Espectadores e leitores não vão faltar.


Publicado originalmente no Jornal Acontece da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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