Por Camille Santos
Em 1903 a cidade de Barbacena em Minas Gerais passou a ser conhecida como “Cidade dos Loucos” graças à inauguração de um complexo manicomial, composto por 7 instituições psiquiátricas. Antes de ser um local designado ao tratamento psiquiátrico, o Hospital Colonial de Barbacena tratava apenas de pacientes vítimas da tuberculose, o que explica a localização afastada, em cima de uma montanha. O que mais tarde viria a ser o local perfeito também para os grupos excluídos e marginalizados da sociedade.
A instituição era formada por diversos pavilhões, e cada um deles direcionado a uma especialidade. Entre eles estavam o pavilhão Antônio Carlos, área destinada aos homens indigentes e o Pavilhão Zoroastro Passos, área para onde iam as mulheres indigentes.
Como o hospital não tratava apenas pessoas da cidade, muitas acabavam vindo de fora, desembarcando de trem. Anos depois, devido os acontecimentos, comparações com os campos de concentração nazistas acabavam sendo inevitáveis, já que os prisioneiros também eram trazidos de trens.
O Colonial recebia todo tipo de pessoa, sendo que 70% deles não apresentavam nenhum registro de doença mental. O hospital passou a ser depósito de indesejados pela sociedade, como alcoólatras, homossexuais, negros, mendigos, prostitutas, viciados em drogas, índios, pobres e indigentes.
Os tratamentos utilizados no hospital de Barbacena se resumiam à tortura. Utilizavam cadeiras elétricas, solitárias, ducha escocesa e camisas de força, todos eles aplicados a quem não se comportasse bem. Estupros também foram relatados durante os anos de funcionamento do hospital.
O manicômio chegou apresentar superlotação quando atingiu cerca de 5 mil pacientes, ignorando o suporte que a instituição apresentava de apenas 200 pessoas. Para comportar tantos pacientes e abrir espaço, o Hospital Colonial optou por trocar camas por grama. Os pacientes eram submetidos a situações desumanas, como fome e sede. Em alguns casos chegavam a defecar no chão e beberem a própria urina. Nos pátios dos pavilhões, viviam nus em meio a ratos e baratas. Com uma série de maus tratos, frio e fome, muitos não resistiam e acabavam vindo a óbito.
Muitas pessoas eram internadas no Manicômio de Barbacena pela própria família. Como era o caso de mulheres indesejadas pelos maridos e parentes que tinham algum tipo de deficiência, transtorno ou distúrbio, como Síndrome de Down ou autismo.
Percebendo que o cemitério da cidade já não comportava o número cada vez mais alto de mortos no Colonial, funcionários da instituição passaram a traficar cadáveres para faculdades de medicina, que os usavam em aulas de anatomia. E caso a procura fosse baixa, os mortos acabavam sendo dissolvidos no ácido.
Condições desumanas, torturas, superlotação, abandono e crueldade resultaram em um episódio grotesco da história brasileira e mundial. Estima-se que 60 mil vidas foram perdidas devido aos métodos de tratamento e as condições que o Manicômio apresentava. O período em que mais morreram pessoas nessa instituição foi por volta de 1960 a 1970, no início do Regime Militar no Brasil (1964-1985).
O psiquiatra Franco Basaglia, responsável por revolucionar o sistema de saúde mental da Itália, definiu a instituição manicomial como sendo um Campo de concentração nazista, conhecida também como Holocausto Brasileiro.
Em 1996, um dos pavilhões foi transformado em museu para manter viva essa lamentável memória da história brasileira. Hoje, restam menos de 200 sobreviventes da tragédia.
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