Por Isabella Scala
É difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar dos julgamentos das “Bruxas de Salém”, que ceifou a vida de cerca de 20 mulheres inocentes e foram incitados pelo machismo da época e uma das maiores histerias coletivas já vistas na história.
Durante o século 14 até o século 18, qualquer mulher de países europeus, como Inglaterra e França, que não se consideravam católicas ou tivessem comportamentos diferentes do considerado da época, podia ser acusada de bruxaria e levada à julgamento. Caso condenada, ela era executada na fogueira.
Em 1692, em Salém, Massachusetts, um pânico coletivo de uma pequena vila causou um dos maiores assassinatos em massa da história. Tudo começou quando Elizabeth Parris, filha do primeiro-ministro da Salem Village, e sua prima, Abigail Williams, começaram a demonstrar comportamentos estranhos. Outra criança da vila, Ann Putnam, também demonstrou os mesmos sintomas. As meninas foram levadas ao médico, que determinou que elas estavam sendo afetadas por eventos sobrenaturais causados por bruxas e pelo diabo, que andava livremente por Salém. Três mulheres foram acusadas de bruxaria: Tituba, escrava da família Parris, Sarah Good, uma moradora de rua, e Sarah Osborne, uma idosa pobre.
Para entendermos melhor a causa dessa histeria coletiva, precisamos estudar o momento histórico que a região de Salém enfrentava. Três anos antes dos acontecimentos, em 1689, ingleses e franceses lutavam por território na Guerra dos Nove Anos, o que abalou grande parte do estado de Nova York, nos EUA, e de Nova Escócia e Quebec, no Canadá. Como nas guerras que vemos atualmente no mundo, uma onda de refugiados fugiu para as regiões próximas em busca de abrigo. Um dos lugares que muitas pessoas migraram foi a Salem Village. Isso causou um grande impacto na economia local e aumentou a rivalidade das famílias locais, que dependiam da agricultura para manterem seus status de riqueza.
Voltando à época das acusações de bruxaria, entre as três mulheres que foram acusadas, Tituba foi a única que afirmou ter um pacto com o demônio, assinado seu nome em um livro e ter garantido que haviam mais bruxas espalhadas pela vila com o intuito de acabar com os puritanos. Não é coincidência que a única mulher que afirmam ter confessado foi uma mulher negra e escrava.
Cerca de cinco meses se passaram, e os números de mulheres sendo acusadas de bruxaria cresciam cada vez mais. Com o crescimento dos casos, o governador William Phipps criou um tribunal especial para julgar os crimes e bruxaria. Em junho, essa histeria custou a vida da primeira vítima: Bridget Bishop, acusada de ser bruxa pelo seu comportamento fofoqueiro e promíscuo. Em 10 de junho, ela foi enforcada.
Nos próximos meses, mais 18 mulheres foram condenadas ao enforcamento por crimes de bruxaria. Quando sua esposa foi acusada de bruxaria, o governador Phipps considerou o pedido do ministro Cotton Mather e de seu filho Increase Mather, o presidente de Harvard, de não considerar sonhos e visões como evidências em testemunhos. “É melhor que dez bruxas suspeitas escapem do que uma pessoa inocente seja condenada”, escreveu Increase. Em 29 de outubro, o governador decretou o fim dos julgamentos.
Com o tempo, o número de acusadas foi diminuindo. Quando as autoridades perceberam a gravidade dos seus atos, já era tarde demais: 19 mulheres haviam sido enforcadas, diversas morreram na prisão, um homem de 71 anos havia sido morto a pedradas e mais de 200 pessoas tiveram as vidas arruinadas pelas acusações. o juiz Samuel Sewall pediu perdão público pelo seu erro nos julgamentos e em 1697 foi decretado um dia em jejum em nome das vítimas. Em 1711, as famílias das vítimas recebeu cerca de 600 libras como indenização. Apenas em 1957, 265 anos após o ocorrido, o estado de Massachusetts pediu perdão formal pelos assassinatos.
Em 1976, a pesquisadora Linnda Caporael afirmou que o comportamento das crianças que iniciou tudo foi causado pela contaminação por um fungo encontrado em centeio, trigos e cereais. Tal fungo causa vômito, contrações musculares e alucinações.
Atualmente, em Salém, existe o Museu das Bruxas, que, além de exibir documentos da época, também conta com diversos cenários dos tribunais onde as mulheres foram julgadas. O Museu também apresenta diversos documentos de como a bruxaria foi retratada durante a história.
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