Por Camille Santos
Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, mais conhecido como Tim Lopes, nasceu em Pelotas, Rio Grande do Sul, em 18 de novembro de 1950. Era filho de Maria do Carmo e Argemiro Lopes do Nascimento. Foi criado, desde os 8 anos, no Morro da Mangueira, no Rio de Janeiro, junto com os irmãos Miro e Tânia Lopes. Teve dois filhos, Bruno, do primeiro casamento, e Diogo, com Alessandra Wagner, com quem foi casado por dez anos.
Tim Lopes cursou jornalismo na Faculdade Hélio Alonso (FACHA) no Rio de Janeiro e durante sua carreira escreveu para os jornais do Rio “O Globo”, “O Dia”, e “Jornal do Brasil”. Tim Lopes começou a trabalhar como contínuo na revista Domingo Ilustrado, do jornalista Samuel Wainer. Ele contava que seu apelido fora dado pelo próprio dono no jornal, devido a sua semelhança com o cantor Tim Maia.
Como parte de uma peça de investigação em 1978, Lopes trabalhou em um canteiro de obras subterrâneo do Metrô do Rio, para destacar condições de trabalho difíceis no calor sufocante. “Sempre procurei investigar, no fundo, a alma das pessoas”, afirmou certa vez. O repórter costumava entrar na pele dos entrevistados: passou-se por mendigo para retratar a realidade de meninos de rua em reportagem do “Jornal do Brasil”. Quando trabalhou no jornal “O Dia”, disfarçou-se de obreiro e sem-teto. Em uma das primeiras reportagens que fez na Globo, para o “Fantástico”, fantasiou-se de Papai Noel e ouviu crianças carentes sobre seus sonhos.
Apesar de conhecer a fundo os personagens de suas matérias, para a maioria dos telespectadores brasileiros Tim Lopes não tinha rosto. O fato de se dedicar à produção jornalística, apurando os fatos, poupava-o de ficar na frente das câmeras. Somente assim, o repórter era capaz de mostrar o que, muitas vezes, ninguém tinha coragem de denunciar.
Ganhou muitos prêmios em sua carreira, inclusive o Prêmio Esso, em 2001. Em 1985, ganhou o 11º Prêmio Abril de Jornalismo na categoria Atualidades, pela matéria “Tricolor de Coração”, publicada na revista “Placar”. No ano seguinte, foi novamente agraciado com o Prêmio Abril, desta vez pela matéria “Amizade sem Limite”.
Os colegas de jornalismo de Tim Lopes o descreviam como um repórter do tipo velha escola, que recolheu suas histórias pesquisando na rua, em vez de ficar sentado em um escritório com ar condicionado navegando na Internet em busca de ideias. Um tema consistente da reportagem de Tim Lopes foi mostrar como os cidadãos de baixa renda que viviam nas favelas do Rio de Janeiro eram submetidos ao terror e impotência sob a “lei dos traficantes”. Lopes achava que o governo havia cedido o controle de bairros pobres a traficantes de drogas violentos. Um exemplo disso foi a série que ele escreveu para o jornal “O Dia” em 1994, intitulado "Funk: Som, Alegria e Terror". A história descreveu certos bailes funks dirigido por traficantes.
Seu primeiro trabalho no jornalismo de radiodifusão foi para o programa de noticiários “Fantástico”, na rede Globo. Durante um trabalho em 1995, Tim Lopes posou como um vendedor de rua enquanto ocultava uma câmera dentro de um cooler. Seu objetivo era lançar uma luz jornalística sobre os riscos para os cidadãos comuns do Rio de serem assaltados por ladrões, já que essa era uma realidade frequente naquela época. Durante o curso da investigação, Lopes assistiu a uma cena dramática que foi toda gravada na câmera: Um grupo de adolescentes do Centro do Rio, com um dos ladrões empunhando uma faca grande para a vítima. Quando um motorista de táxi assusta o assaltante disparando um revólver, o garoto estava na Avenida Presidente Vargas e acaba sendo violentamente morto quando é atropelado por um ônibus da cidade. Várias câmeras da Globo estavam filmando o episódio inteiro de diferentes ângulos, o que foi mostrado durante a reportagem, contando com algumas censuras. A cena pesou na mente de Lopes por um longo tempo.
Tim Lopes tornou-se produtor da Rede Globo em 1996, sendo responsável por reportagens do “Fantástico”. Realizou a série “Hora da Verdade”, na qual familiares de vítimas ficavam frente a frente com assassinos presos. “É um desafio. Relatar a violência a partir dos próprios personagens e por eles mesmos. Mostrar a dor, o sentimento de vingança, a resignação, o perdão. Falar do sentimento humano, da emoção. Colocar a vítima e seu algoz cara a cara num momento de catarse, sofrimento e alívio. Propiciar a sua hora da verdade”, declarou na época, a respeito do programa.
Após quatro meses de “Fantástico”, o repórter foi deslocado para a editoria Rio, na qual coordenou a equipe que realizou a série “Feira das Drogas”, exibida com grande destaque no “Jornal Nacional”. O repórter usou uma câmera escondida para mostrar os traficantes na rua vendendo cocaína abertamente aos pedestres, gritando a droga e seu preço. Suas filmagens também capturaram traficantes armados desfilando em motocicletas com suas AK-47. Esta filmagem foi filmada em uma densa rede de favelas na Zona Norte, chamada Complexo do Alemão; mais especificamente dentro do Complexo, essa área em particular é conhecida como a Grota. Tim e sua equipe receberam o Prêmio Esso de Telejornalismo de 2001, pelo mesmo trabalho.
Um dos repórteres que trabalhou na equipe de Lopes para coletar imagens secretas para o mesmo relatório investigativo foi a jornalista da Globo, Cristina Guimarães. Ela filmou nas favelas da Mangueira e da Rocinha no mesmo período. O relatório foi televisionado no “Jornal Nacional” em 3 de agosto de 2001. O relatório recebeu muita atenção, o que por sua vez fez com que a administração política do Rio agisse. Seguiram-se as repressões policiais e os traficantes na favela da Grota e as outras favelas em destaque foram impedidas de vender abertamente drogas nas ruas por um tempo, e algumas foram presas. Posteriormente, os chefões do tráfico de drogas das facções criminosas que controlavam essas áreas não ficaram satisfeitos com a diminuição das vendas.
No dia 2 de junho de 2002, Tim Lopes deixou a redação da Globo para concluir uma apuração. Ele havia recebido denúncias de moradores do bairro da Penha, no Rio de Janeiro, sobre consumo de drogas e sexo explícito em bailes funks na favela Vila Cruzeiro. O jornalista estivera na região quatro vezes, duas delas com microcâmeras escondidas, para fazer gravações. Na quinta, não voltou para casa.
A confirmação da morte de Tim Lopes veio após uma semana, ao descobrirem, com base em depoimentos, que o jornalista teria sido morto durante a apuração. Para saber como o jornalista Tim Lopes morreu, aguarde a próxima matéria do Gabinete do Crime que será disponibilizada neste sábado, 25 de abril.
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